Um chafariz a 500 metros é a única solução para os moradores do bairro de génese ilegal do Cerrado Novo, em Belas, que lamentam estar à espera da legalização que devolverá o bairro ao século XXI.
É no meio de uma estrada de terra batida, repleta de buracos, que Helena Rocha, moradora neste bairro há 10 anos, vai de dois em dois dias buscar água a um chafariz colocado a 500 metros da sua casa.
Do alto dos seus 67 anos afirma que estas viagens, por vezes com um carrinho de mão, fazem parte de uma rotina quase diária partilhada com outros moradores que aguardam há 10 anos pela conclusão do processo de legalização do bairro.
Sem saneamento básico e sem água canalizada, esta legalização permitirá aos moradores obter um conjunto de infra-estruturas semelhantes a outros bairros que fazem fronteira com o Cerrado Novo.
Segundo Adolfo Aguiar, presidente da Comissão de Moradores do Bairro Cerrado Novo, este é um bairro classificado como Área Urbana de Génese Ilegal (AUGI) que desespera desde 1999 pela segunda fase de legalização que permitirá a colocação de alcatrão, água canalizada e esgotos no local.
“Para a instalação da água no bairro falta-nos um parecer da Divisão de Urbanismo da câmara de Sintra para que os SMAS [Serviços de Água e Saneamento] avancem com as obras. Está ali um entrave qualquer que não deixa com que tenhamos água”, adiantou o morador durante uma visita ao bairro.
Segundo Adolfo Aguiar, os moradores aguardam desde Outubro de 2008 por este parecer que tornará a vida destas pessoas menos “desumana”.
“Nós pertencemos à freguesia de Belas e a um concelho que é património mundial da Humanidade. Este bairro parece o fim do mundo”, adiantou o morador, enquanto mostrava o local a elementos do Bloco de Esquerda.
Após visitar o bairro, André Beja, representante do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Sintra, afirmou que “era importante que a câmara desse uma resposta célere à população deste bairro”.
“Há dez anos que a primeira fase de legalização desta AUGI está aprovada. Estamos à entrada da segunda fase que implica uma infra-estruturação como esgotos, água canalizada ou asfalto”, referiu o bloquista.
Segundo André Beja, a autarquia de Sintra aprovou “há um ano medidas especiais para que este tipo de situações em AUGI sejam resolvidas”.
“Esta situação está emperrada por alguma questão burocrática. É desumano que as pessoas tenham que viver nestas situações”, referiu.
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