terça-feira, 10 de novembro de 2009

Drama social em Algueirão-Mem Martins

A fome e a pobreza envergonhada aumentaram no último ano no concelho de Sintra. Lacerda Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia, e Manuel do Cabo, presidente da Junta de Freguesia de Algueirão-Mem Martins consideram que estas são as consequências da crise económica e do consequente aumento do desemprego.
O presidente da Junta de Freguesia de Algueirão-Mem Martins adiantou ao Correio da Cidade que a junta tem sido procurada nos últimos tempos por pessoas carenciadas, “muitas delas a passar fome”.
“Há fome em Algueirão-Mem Martins. Esta é a realidade. Todos os dias temos aqui pessoas desempregadas, que não conseguem pagar as suas contas e que não têm dinheiro para se alimentar e para alimentar os filhos”, disse o autarca.
Segundo Manuel do Cabo, “há muita pobreza envergonhada”, mas “o desespero” faz com que muitos jovens e casais a passarem fome” se desloquem à Junta de Freguesia. No entanto, Manuel do Cabo garante que a Junta pouca ajuda pode dar.
“A Segurança Social devia estar mais próxima destes casos. A resposta que damos é uma resposta para um dia ou dois, mas uma pessoa que está carenciada durante meses tem que ter um planeamento mensal enquanto não se resolve esta situação. Arranjo um saco de mercearias e dou-lhes mas isto não resolve o problema”, disse.
Manuel do Cabo adiantou que ainda na quarta-feira, dia 5 de Novembro, um jovem casal se deslocou às instalações da Junta para pedir ajuda. “Este casal tem água para pagar há meses, tem que ir uma consulta e tem que comprar medicamentos e não consegue. A resposta é muito limitada. Somos o governo político da comunidade, mas não temos capacidade de resposta apesar de estarmos a fazer um esforço muito grande. Todas as semanas compramos géneros alimentícios de 400 euros para as instituições de solidariedade da freguesia”, sublinhou.
Manuel do Cabo adiantou ao Correio da Cidade que se sente “revoltado e com tristeza pelo facto de não poder responder a estes problemas”. “São situações quase diárias. Quando verificamos que um casal jovem desempregado não tem possibilidades de pagar a renda, quando têm filhos e não lhes conseguem dar a assistência médica, sentimo-nos mal”, disse.

PROJECTO DE EMERGÊNCIA SOCIAL
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Sintra, Lacerda Tavares, adiantou ao Correio da Cidade que esta entidade já notou esta situação de fome e de pobreza “há um ano atrás”.
“Criámos o Projecto Emergência Social para dar respostas mais rápidas e menos burocráticas. Se a pessoa precisar de comer é na hora e sem pagar. Se precisar de tomar banho ou lavar a roupa pode fazê-lo na hora”, disse o antigo vereador da autarquia de Sintra, adiantando que “a nível de alimentação todos os dias se deslocam à Santa Casa mais de cinco a seis novos casos”.
A Santa Casa da Misericórdia apoia mensalmente 900 familias, fornecendo-lhes alimentação e roupa, tendo criado um novo projecto que possibilita dormidas a quem não “tenha nada”. “Este projecto é para casos dramáticos de pessoas que não têm onde dormir. É para poucos dias embora alguns casos já ultrapassem os quinze dias.
Lacerda Tavares considera que o desemprego proporcionou muitos destes casos que já tocam “famílias” que pertenciam à classe média.
“A pobreza envergonhada tem aumentado muito. As pessoas são atendidas com muita sensibilidade, às vezes à noite. A nossa técnica atende fora de horas famílias que vão fora de horas porque não se querem mostrar”, adiantou.

jreis@correiodacidade.net

[edição nº117 do Correio da Cidade]