quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Um ano depois pouco ou nada mudou na EN117

A família e os comerciantes do local onde há um ano morreram duas irmãs arrastadas pelas águas para a ribeira do Jamor denunciam que a câmara de Sintra apenas há cinco dias interveio na zona.
A 18 de Fevereiro de 2008, um automóvel onde seguiam duas irmãs caiu à ribeira do Jamor na sequência do mau tempo e das cheias que atingiram esta localidade do concelho de Sintra. A queda de um muro que separa o rio da Estrada Nacional 117 (EN117) provocou o arrastamento, por força das águas, do veículo onde seguiam as duas mulheres.
Passados doze meses, o muro continua por arranjar e foi substituído por um rail metálico, a EN117 permanece sem passeios que possibilitem aos peões circular em segurança e os moradores e comerciantes da zona lamentam a falta de intervenção no local.
Alguns moradores e comerciantes do local referiram que apenas na sexta-feira [13 de Fevereiro] a Câmara de Sintra trocou os pinos brancos e vermelhos, que se encontravam no local desde o fatídico dia, e que substituíam parte do muro que ruiu, por um rail metálico.
Hugo Baptista, proprietário de um restaurante no local, adiantou ter presenciado os trabalhos por parte da câmara, e reclama o entendimento entre a Estradas de Portugal e a autarquia de Sintra para que solucionem os problemas “desta zona esquecida”.
“Esta estrada não tem condições nenhumas. Devia haver passeios para as pessoas passarem e a paragem de autocarros está muito perto da estrada, o que é um perigo”, disse o comerciante. Um ano após o acidente é visível a degradação do muro ao longo de várias centenas de metros, parte dele substituído por pinos vermelhos e brancos com uma altura de 40 centímetros.
Carlos Nunes, amigo e representante das famílias das duas mulheres, lamenta que “em um ano a única coisa que mudou foi tirarem os pinos de plástico que faziam de muro por um separador que puseram há cinco dias”.
“O que é certo é que faz um ano e parece-me que pouco conseguimos aprender enquanto pais sobre assuntos desta natureza. O muro está todo degradado e quando dizem que é privado eu gostava de perceber então quem é que colocou aqui este separador”, referiu.
Há um ano Sara Gomes foi recolhida já sem vida do interior do carro e o corpo de Zíbia Coimbra nunca apareceu, após as autoridades terem realizado intensas buscas durante 15 dias. Segundo Carlos Nunes, doze meses depois, a única ajuda que a família recebeu veio da parte da Junta de Freguesia de Monte Abraão, que pagou o funeral e deu apoio psicológico à família, e da Segurança Social.
“Por parte da empresa seguradora houve um desresponsabilização total porque apontaram que o acidente se deveu a coisas da natureza”, disse, adiantando que o advogado da família continua a aguardar a entrega de documentação por parte da Câmara de Sintra e da Estradas de Portugal para iniciar o processo em tribunal no qual a família pretende o apuramento de responsabilidades.
Segundo a Estradas de Portugal, o muro danificado aquando do acidente é propriedade particular, tendo o respectivo proprietário sido notificado para proceder à devida reparação. “A EP e a Câmara Municipal de Sintra têm em curso um estudo que avalia a possibilidade de se efectuar uma intervenção que melhore as condições de circulação, nomeadamente com melhoria das características geométricas da estrada e nova pavimentação”, refere EP.

CÂMARA AFIRMA TER APOIADO FAMÍLIAS DAS VÍTIMAS
Segundo a Câmara de Sintra, a autarquia apoiou as famílias das duas mulheres. Em comunicado, a autarquia adianta que o apoio financeiro prestado pela Segurança Social às famílias das vítimas foi obtido por seu intermédio. A Câmara de Sintra recorda ter inclusivamente auxiliado um dos viúvos, que se encontrava em situação ilegal em Portugal, a tratar da sua legalização.
“Duas crianças de uma das vítimas e do senhor Lourenço Coimbra foram colocadas numa IPSS. Também foi a autarquia que tratou de tudo, tendo inclusive pago a sua inscrição”, refere o comunicado.

jreis@correiodacidade.net